quarta-feira, 18 de março de 2009

a chuva

A chuva diz muito sobre a cidade.
Ontem vi o mundo cair do nono andar de um prédio (o Sesc) da Avenida Paulista.
De repente abrem-se milhares de guarda-chuvas. Os pretos se confundem com o asfalto, com a sujeira, com a cidade. Pensei que as pessoas deveriam comprar mais deles coloridos. O efeito é fantástico visto de cima.
Elas apressam o passo, algumas correm... outras, sem proteção, desistem e caminham tranquilamente, se encharcando por aí.
De repente anoitece, o trânsito começa a parar. As luzes dos carros se acendem. De uma lado são todas vermelhas, do outro, todas brancas. É lindo. São dois rios pós-modernos.
A diferença dos rios de antes é que na chuva, fluem com mais dificuldade, ou quase não fluem. Os peixes pequenos de capa preta vão a todo vapor, de um lado para o outro, se arriscando na aventura da sobrevivência.
Até que desci. Os pingos eram gelados e eu não estava provida de guarda-chuva de nenhum tipo, de cor alguma. Logo percebi que a visão debaixo é bem menos organizada, mais caótica e barulhenta do que a de antes. As pessoas não mais parecem andar calmamente e os guarda-chuvas podem se transformam em objetos agressivos.
Caminhei com a tranquilidade de quem conhece o panorama geral, com a visão de cima, me encharcando por aí.

2 comentários:

  1. Que maravilhoso. Pra quem, como eu, viu a chuva só pelos textos dos jornais, pelos quilômetros de "rios parados", pelos índices de "pontos de alagamento" ...

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  2. Bebel
    Que texto lindo! Achei fantástica a descrição e as imagens do rio pós moderno.Adorei a feliz idéia do blog!
    Maior orgulho.
    Daisy

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