sexta-feira, 26 de novembro de 2010

desfavela tiquatira

choque entre dois ou mais corpos,
uma tropa deles:
camisas no chão! cadernos nas árvores! mãos aos CEU's!
e os cavalos enormes, fortíssimos, robustos, viris
desavisados

rédia curta:
não há galope em tamanha concretude.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

bobinho, bobinho

cansei das bolinhas que eram adereços a este.
indaguei se eram também endereço.
conclui que estavam desbotadas.
deveria me mudar, jogar os rabiscos no lixo, pintar os cabelos

detectei superficialidade, efemeridade e falta de radicalismos do mundo virtual
seria eu, mais uma parte dele?
em cima do muro não tomei decisão drástica, escrevi este a mais, mudei temporariamente o envólucro.


clean.


talvez seja o último.


bobinho, bobinho.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

versão 2

Minha avó abriu um sorriso enorme ao ouvir a notícia de que eu prestaria Letras no final do ano. Tinha um fio de alface entre seus dentes.
E a memória disparou palavras de sua boca (!) : Canissal, canissal, cão e sal. Foi meu professor. O nome é grego. Agora está em São Paulo; ele que não gostava de mim, era sabida demais.

-Vó, vamos escovar os dentes?
-Tira o oxigênio.



-Letras?

-Vó, porque você tá deitando? A gente não ia escovas os dentes?
-Tinha uma pedra no meio do caminho.
-No meio do caminho tinha uma pedra.
-Que pedra suja!


sobre as pedras (versão 1)


Mas tinha uma pedra no meio do caminho. "Que pedra suja!" disse minha querida avó semi-lúcida, sobre a pedra do esquecimento em seu fluxo-caminho da sala para o banheiro. No meio do caminho tinha uma pedra; e ela se deitou na cama, ao invés de escovar os dentes.



quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sobre a morte

berro alto: essa música é minha, essa bola é minha, esse é meu, não dou, ponto final .
há um ponto, isto é fratura
.
memória em golfadas, muitos olhos, uma voz sombria, não consigo deixar as vírgulas, o ponto golpeou meu estômago. há um fim. sinto subir o calor paulatinamente da garganta para as amídalas, engulo seco regorgito amargo.
a fim, se irrompe a primeira contração muscular: fino grunhido berro acalenta. goteira.goteira.goteira.
(menina não chore menino não bata) .
homem finda.

(o ponto tem voz)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

quem és tu, mariana ? já de longe ouço mares e marias, anas; tens amores?
viro homem em teu nome para desejo sem culpa.
de boca, falo, anus. nua: anas não sanam.
ana, não somos,
em suma,
não somo,
não sou MAriana.


sábado, 5 de junho de 2010

carros naufragos

Daqui, do quarto andar, não é possível ouvir as gotas da chuva caindo no chão, quem dirá nas folhas das árvores. Da chuva ouço o contato molhado dos pneus dos carros com o asfalto. O encharcado abafa e dá leveza a aquele ruído automobilístico. O aconchego de dormir em som de chuva vira aconchego dos pneus se inundando em meus sonhos. Os carros nadam, ou esquiam em película encardida.
Pensou Santo Pedro que a chuva de Santo Paulo não seria absorvida por terra? Que chuva viraria aguaceiro a ser levantado por pneus?
Em noite insone, chove lá fora, aqui faz frio, e nada disso interrompe nem silencia a britadeira da esquina, nem mesmo aquela debaixo da pele.
Ainda assim,
carros aqui
nada(m).

sábado, 29 de maio de 2010

sem viver contrariado

Enfim, há o silêncio do interior de textura densa, sol e horizonte a poder ver e perder de vista.
Há o dar-se conta do estrondo por debaixo da pele
pela falta dos ruídos, pela música dos pássaros,
meu estado comprimido; armadura pesada sendo deixada pelo caminho da casa.
Em despir-se,
corpo em contato com o vento,
percebo a fadiga que foi carregar-me até aqui:
a cidade grande
não cabe em mim
nem eu silencio no vazio.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

não bastasse as entranhas
dei verbo
olhos
coluna, ar e fôlego

despi-me
em reverência
a tantos olhos esbugalhados
suplicantes de tanto muito tanto

de tato fico carente
em casa fico doente
na cama, só.

em lágrimas escorro.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

caladapeço
discretadescalça
simples
acalento

sábado, 8 de maio de 2010

sobre delimitar-se

curioso:
o que plaina é o chão debaixo dos pés,
airplane é casa feita de tijolos.

eu: bee
zummmmm!

mel nada:
amarga ácida cítrica
impossível conter a careta.

quem plaina em pleno solo
de repente num tropeço bobo
se vê olhando o céu
tendo o concreto em contato com corpo.
curioso:
é assim que me contorno.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

em busca por espaço para existência.
é possível ser e existir?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sentir é questão de pele, amor é tudo que move.

mèrci, Gilberto G.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

aCme

em branco
estado pleno
caibo eu perfeitamente em meu corpo
e subitamente,
num ardido grunhido,
dele me descolo.

é de prazer que falávamos
e foi por ele que,
(de fôlego preso)

águasas
caí
ram.

quarta-feira, 31 de março de 2010

o embate bruto com um objeto concreto faz com que eu, de repente, me sinta existente também como um objeto duro.

pela dor se faz contornos e concretude além da efemeridade da carne que pensa.

Osso tão duro quanto muro, tão quina quanto encontro de dois, tão rígido quanto o que pode, de súbito, esfacelar,

resta verbo?

segunda-feira, 29 de março de 2010

estrangeira still. brega in

in other mood
I felt like falling
in other language
just fighting to find out
other words with other sounds
to sound me different
to say me whispering
to calm (me) down
on stairs
on stars
on stage
one´s self
such thing just happens
someone is lost
souls are in dust
so sing me in a swing all

I, bet-bat,
better stop me in you.

segunda-feira, 22 de março de 2010

pontacabeça

Entre um passo e outro
um abismo.
Na iminência
fico eu paralisada,
gelo na boca do estômago
febre no peito
raízes nas costas
asas nos pés
tudo ao invés
ao revéz
diz-me:
onde?
ao norte
gente?
onde andas!
como estar-me
eu
existir posso
só.




solo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

foi me dado um presente:
enxergar cores vibrantes
no dia em que desbotava.
foram tantas tantas tantas
que estômago embrulhou,
fraquejaram as pernas,
acelerou o coração.
o verde dos olhos de hoje,
o amarelo da flor,
cinza da cidade,
vinho de minhas unhas,
como se cada novo objeto
fizesse romper corte na pele
e restei eu.
morta de cansada
de ser atravessada.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

apelo pela pele

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

indago do que mais além das formas, cabelos e trejeitos são feitas as mulheres para que possam sê-las desnudas e rudes. Fortes e potentes.

Salsinhas do jardim, parem de me ameaçar com a morte prematura!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

eu,
verão.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

gratidão

Quem me vê andando na rua pensa que eu sou otimista. Ainda insisto em exibir a pele mais escura, os passos como quem pisa em areia fina, o olhar perdido e contemplativo. Muito otimismo ao fingir o sol, ver cor no céu e desprezar perigos nos cruzamentos. Penso que meus cabelos cresceram muito, já quase sinto-os tocarem os ombros, vez ou outra exibo-os presos pois posso agora detê-los num prendedor qualquer.
À primeira pergunta iria logo advertir que ainda não aterrizei, que ainda espero ansiosamente por palavras carinhosas na caixa de e-mails, cartões-postais debaixo da porta, um presente atrasado. Agradeço pelas ervas de melissa para fazer chá calmante, pelo livro usado e rabiscado, pela despedida no caminho de casa, pela pizza - acabaríamos em pizza para não fugir da regra - mesmo que tudo isso tenha sido apenas anunciado e intensionado.
De real percebo, logo na entrada de casa, e então agradeço à vitalidade das plantinhas por não se entregaram mesmo com minha ausência. Espero também, com força e de mãos apertadas, não me entregar à introspecção exagerada, à arrogância de não mais poder compartilhar, à vontade de tirar coisas do currículo e apagar biografias.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

carta em branco

Nesse dia em que eu o havia matado em mim nos sonhos, algo me acorda de mim, assim, logo de manhã e desprevinida, um bom dia! descuidado para dizer que: encontros somente mediados por recursos tecnológicos.
Feliz ano novo!, eu disse, mesmo sabendo que os anos nos mostram felizes e tristes, como tem que ser, com a vida damos, e desejar nos cabe.
Férias e noites de bom sono ajudam a digerir, devo sempre aconselhar-me.
Terão a delicadeza de me receber, afirmo e indago.
Mesmo ano novo, pulsa meu lado ingênuo e escancaro o que não sei da forma, não sei dar forma, não sei se forma tem.
Não é de mim formatar fins, nem começos, nem burocratizar o por vir, mas não quero prolongar o que não tem vida, o que já morreu, não quero chegar atrasada ao encontro, não quero levar adiante o que já causou dor de outrora.
No que me apresenta em branco, no branco em que eu pulei ondas, tomei chuva e me inundei em mar, resta o frescor e o balanço salgado, e tudo que eu pude deixar mar a fora, e transformar maradentro.