segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

m
eu
pote de cerâmica predileto levou um tombo.
.
aos meus olhos em pânico mostrou-se um rasgo, uma fenda. depois outra
e outra,
outra,
até que,
enfim,
superfície desertou.
Pude ver o que antes era imaginado: a cor do barro seco.
Agora se esfacela aos meus dedos no acariciar de seu bojo.
Quero reparar:
botar cola
passar guspe
forçar minha fôrma antiga.

Revolto pote
se mostra desconjuntado, retalhado, do avesso.
euvaso, em expansão do vazio,
busco artesão cuidadoso, mão leve, silêncio e calma.
Façamos beleza dos cacos.

sábado, 5 de dezembro de 2009

lógica para

Porque todo desejo é forte demais para realizar-se porque o que me olha é caolho. Porque a solidão hoje é minha familiar escolha. Sento-me e ouço a voz dos anjos, porque música arrebata.
Porque vi uma ruga na testa, sinto envelhecer o caule em terra infértil, porque rugas do tempo não devem ser preenchidas. Porque comunicar parece tarefa impossível, só verso e nunca prosa, sozinha me verso, porque estamos fora de moda, porque me interesso em porques, finjo calma à toda troca, porque espero que não cheguem ao final deste, minto, minto muito, para enebriar a quem possa entrar, porque sou quase translúcida e meu coração salta, por você que quase não sabe o que sente, por mim que não sei como ainda, vou me retirando ao futuro, grande já presente, em gerundio contínuo e redundante, indo, que me cabe bem, obrigada.