quarta-feira, 29 de abril de 2009

a dança do maestro

Saindo do compromisso, em estado fraternal como de costume, vendo o transito parado da Vila Madalena dos nossos tênis nas calçadas, recebemos o recado-convite de que para nós, da classe dos ainda estudantes, haveria convites a 10 reais para assistir a Orquestra do Champs-Elyses, com bailarinos, projeções de vídeo e um ator argentino que fala francês. Tudo isso na Sala São Paulo, dalí uma hora.
Nessas coisas que só São Paulo proporciona, me percebi na estação da Luz um pouco amedrontada. Logo em seguida, estava eu sentada em um banquinho de madeira em forma de "5" sem a perna de cima, olhando para os ladrilhos esverdeados do chão, com um capuccino na mão e o programa do concerto no colo.
Mulheres perfumadas com casacos de pele não intimidaram nossos jeans e tênis gastos do dia.
Aos primeiros acordes dos violinos, nas primeiras danças do maestro, instaurou-se o ar celestial que me elevou ao sensível e fez lacrimejar os olhos. Pensei que de fato a qualidade do Mp3 deve ser pior do que a do Cd, que deve ser pior que o vinil... mas para os meus ouvidos, essas perdas são quase imperceptíveis (talvez por não ouvir esse tipo de música assim, o tempo todo). O fato é que há tempos não ouvia a qualidade do "ao vivo", e essa, nenhuma gravação supera.
Como nem tudo são flores, a dança das bailarinas era terrível. Rude, crua e estereotipada. Ficamos boqueaberdas e a Julia frustrada ao constatar que até na Europa é possível haver baixo nível. O argentino falava muito bem francês. Se esforçou tanto para esconder o sotaque que recitou o texto sem as nuançes que a peça musical sugeria. Sem nuance alguma.
Os vídeos eram bonitos mas não importa muito. Pois aquele tenor cantou. com o encantamento de outros mundos. E pude sentir-me a flutuar pela sala, linda sala.
(Não merece aqui espaço para discorrer sobre os caminhos errados para voltar para casa, nem sobre o choque de realidades entre "o dentro e fora" da Sala São Paulo. )
meu espirito se elevou e carrego essa sensação para os dias que seguem.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

horóscopo do dia

Segundo o meu horóscopo do dia,em tempos de crise o que há de me salvar é a criatividade. E ele ainda afirmou que "hoje" eram tempos de crise.
Venho mesmo sentindo o cheiro e seus ares, mas, agora que me aproximei do universo Zen, associei meu recolhimento ao outono.
não sei muito sobre a criatividade em tempos de crise. Dizem da arte o poder de sublimar. Não gosto de atribuí-la a tal função utilitária, muito menos terapeutica.

Foi dito que inauguramos uma nova etapa e talvez por isso, tenho tido vontade de inaugurar novos canais. Acho que é possível haver de encontrar outras ilhas, outras paisagens, rios mais turbulentos ou quem sabe até cristalíneos (se bem que não tenho tido olhos para trans-lucidez)

que venha.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

delicias

delícia é poder ir conhecendo aos poucos
de pouco em pouco, cada descoberta, cada revelação, cada história.
delicioso é saber-se ter tempo.
aos poucos conhecer aos poucos. para prazer de cada pequena dose de surpresa.
encantar-se com as novas palhetas de cores que se pintam por outras bandas.
saber quando derramam-se outras lágrimas, quando alagam-se os rios de lá, quando há terremotos.
contar das calmarias daqui, dos dias de vento forte, das cores (e dores) de dentro.
delícia é poder experimentar novos jeitos de ser, de ser com o outro, de poder reinventar-se nas novidades.
bebericar do outro para degustar de si

bom é saber da nossa infinitude dE ser
e poder saborear-se.



aos novos amigos

sábado, 4 de abril de 2009

coração de pirulito

Por medo, muitas vezes me protejo,
as vezes, de viver algo que podia mesmo dar muito errado. Opto por não viver.
Muitas vezes...
acabo ficando sem saber no que daria - se desse alguma coisa.
É nessas horas que eu me sinto covarde diante do mundo.
mas só as vezes.

Nas outras, eu vivi.

Mas dessa vez, tive medo. Me recolhi, entrei na cena como se não estivesse, fazendo pouco caso de mim e dos outros que nos assistiam. Consegui até fingir um relaxamento desleixado, mas por dentro eu sabia que o coração estava na boca, vermelho, pulsante.
Optei por não mostrá-lo e não sei, de fato não sei, o que seria, se fosse alguma coisa.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

sei lá

Sei lá, sei lá,
só sei que é preciso paixão,
sei lá, sei lá,
a vida tem sempre razão.

Vinicius de Moraes